domingo, 6 de maio de 2012

E eu que não me importo com a Carolina Dieckman

De fato não me importo com Carolina Dieckman, não gosto dela, ainda que eu não tenha o hábito de nutrir nenhum tipo de simpatia por atores globais ou quaisquer outros que vendam a atuação como uma forma de trabalho estéril desprovida de qualquer conteúdo artístico. Não tem jeito, não gosto. Nunca me pergunte qual meu ator preferido. Além de não conseguir pensar um sequer que valeria tal destaque eu ainda teria que confessar que sou péssima para guardar nomes de atores, cantores, bandas, filmes, escritores e todo o resto. Pega mal em uma conversa de intelectuais, mas como quero ver este tipo de intelectualidade debulhando favas, pouco me importo.
O problema é que além de Carolina Dieckman ser uma atriz global, meio sem graça, meio sal, ela ainda sempre é vista metida em escândalos, mantém péssima relação com a mídia e fãs. Eu explodiria a mídia com todos eles dentro, mas a partir do momento que você escolheu viver essa vida, bem essa é a sua realidade. Não cabe um comportamento de bela rebelde.
Problemas que eu tenho com a tal Carol à parte, é claro que quero comentar sobre o vazamento de suas fotos nuas na internet. Fotos que não vi e nem pretendo, porque para ver xuxu amargo sem roupa eu vou à feira. Diz-se que a tal senhora foi chantageada por um alguém que pegou essas fotos por tal ou outro meio ilícito. Não trabalho para a polícia (outra que poderia ser explodida em uma grande bomba) e nem quero saber se isso é verdade ou mentira. Assim como nada me interessa sobre a vida íntima de tal moça.
De tudo que ocorreu neste caso, uma coisa me incomoda. Por que a exibição das fotos de uma mulher nua ainda é motivo de chantagem? Por que alguém que está exposto o tempo inteiro no mundo se vê exposto de forma intolerável quando está nu?
As poéticas do corpo sempre estiveram no centro do meu olhar (e de todos os meus sentidos). O corpo como manifestação máxima da nossa conexão conosco e com a natureza. O corpo como expressão maior de todos os paradoxos (da pureza e da esbórnia, vida e decomposição). O corpo, este belo, belo sempre.
A negação do natural atingiu tal ponto em nossa sociedade que a exposição do corpo é a maior exposição, a mais invasora que há. Conquanto expomos coisas terríveis do nosso ser a todo momento guardamos o que há de mais sagrado e potente. Camadas e camadas de roupas, de dias, de pudores que são reforçados no despudoramento mascarador.
O corpo base de toda experiência e essência humana é negado e renegado em cada um dos nossos atos, na supervalorização de cada uma das segundas-peles que habitamos (o auge do fetiche do não-ser). Nos cobrem no momento que saímos de nossa primeira prisão uterina até a última das prisões da morte. Nem na morte podemos estar corpo-livre.
E cada estrato que colocamos vai sufocando parte da nossa essência e nos colocando, ao mesmo tempo, dentro de nossa cultura que presa por tudo que sufoca e agride, agride até pela sua austeridade ulterior asséptica. Agride-nos tanto que passamos a acreditar que é preciso viver com este tanto de ar - rarefeito - com este tanto de peles - artificiais.
Renegamos a segurança à artificialidade. Como se houvesse, como se houvesse, comos se houvesse algo no mundo que não fosse natural. Mas este natural mascarado e ressignificado que nega a si, o qual tentamos imitar a todo o tempo, tornou a sociedade insana. Insana e doente.
Enquanto toda nudez for castigada, e não pelos outros mais do que por cada um de nós, continuaremos sufocando no mar de plástico e lixo (que são formas da mesma matéria). Com manchetes de Carolinas Dieckmans e chantagistas.
Mas haverá uma saída para o mundo onde toda negação de nudez será castigada, assim como fazem as árvores na cidade tentando de toda maneira desvencilhar-se de suas cadeias-canteiros, do asfalto e das grandes que cobrem suas raízes. E elas os destroem e os contornam, enquanto nós sufocamos, cobrimos, negamos. Castramos.


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