domingo, 16 de novembro de 2014

Alcoólicas, em homenagem a Hilda Hilst

Temos um infinito, talvez o próprio.  Por que então a urgência? 
Porque urge de mim um canto de encantamento, uma poesia ritmada. Uma prece prosaica e profana feita de desejo in latência. Feita do que são feitas, também, as asas de fada: suave, certeza, encanto. Feita da minha matéria mais  primordial, aquela que partilho com os astros. Feita de ausências impossíveis. Feita de presença  sensorial (como quando sinto, mesmo em estado ébrio, o exato cheiro teu com café sempre que evoco sua presença virtualmente possível).
Feita com letras de amor verdadeiro e corpo daquela que viveu pra ver. Daquele que viveu e esperou. E viu.  Viu mais e regozijou. E reviu. Tão de perto. Tão sem volta os castanhos nos verdes infinitos. Os corpos derretendo, tremendo e buscando o novo mesmo novo grito. 
(Tão em paz, tão perto do divino, tão profundo,  sereno... ácido. Ecoa) 
Ecoa

domingo, 9 de novembro de 2014

Do próximo encontro...

Que tenham pessoas, ou catracas, ou ruas, ou flores... vejo tudo desaparecendo ao te avistar. Com as pernas trêmulas e os braços enrijecidos, vou caminhar até você tentando medir os paços com a minha respiração. Vou temer, por um segundo, olhar nos teus olhos, mas assim que os nossos se encontrarem sei que terei a coragem suficiente para, enfim, nosso primeiro beijo direto, sem mediações de tempo, de álcool e da timidez. Não que a timidez não esteja lá, mas quando eu penso agora neste momento, a timidez parece ínfima perto do desejo de tocar com os meus os teus lábios. E deste pouso fazer decolagem.

Segurando com força suas duas mãos nas minhas você vai dizer algo, sobre algum lugar e eu vou responder que sim. A verdade é que o onde pouco me importa. (todos nossos onde se transformam em caminhos floridos e inesquecíveis.) E vamos caminhar, evitando nos tocar, ao mesmo tempo que nos desejamos profundamente. (aqui a timidez volta a ganhar espaço)

E sentados em qualquer lugar, perto demais para nos ignorarmos, longe demais para a profusão, trocaremos palavras sem fim. E você me dirá, entredentes: - Bruna, você é exagerada! Vou sorrir, te olhar no fundo dos olhos, piscar uma, talvez duas vezes e te beijar. Te olhando muito, muito de perto, responderei: - Sou, mas não vale à pena? E um beijo selará mais esse entendimento, um beijo intenso, suave, um beijo de quem gostaria que, de fato, tudo ao redor se dissolvesse.